A missão do sacerdote é por natureza vocação de suma importância e valor, porquanto ele é investido dos mesmos poderes de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech” — Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque.
Trata-se de uma escolha que Deus faz entre os homens, a fim de que os chamados para o sacerdócio ofereçam dons e sacrifícios pelos pecados do povo e pelos próprios, além de se compadecerem dos que ignoram e erram.
O nascedouro natural da vocação sacerdotal — o sal que salga e a luz que ilumina — encontra-se sempre no seio das famílias verdadeiramente cristãs, dentro do lar imbuído da fé e da mentalidade da Igreja, bem como da pureza de costumes, da piedade e devoção.
De tão sublime, tal chamado de Deus é comparável a uma cidade sobre um monte ou a uma torre inexpugnável, pois um bom padre salva consigo uma multidão, enquanto um mau padre pode levar atrás de si outra multidão.
Na Epístola aos Efésios, São Paulo engrandece o sacramento do matrimônio ao compará-lo com a instituição da Igreja. Ao ressaltar a submissão da Igreja a Cristo, o Apóstolo convida as mulheres a seguirem o exemplo d´Ela quanto à submissão aos seus maridos; e a estes, a amarem suas esposas como Cristo ama sua Igreja. Em suma, fazer do lar o que faz Cristo com a Igreja: digna, pura, resplandecente, sem mancha nem ruga, santa e imaculada.
Toda a grandeza do matrimônio se patenteia nessa consideração do Apóstolo em relação ao amor de Cristo à sua Igreja. E São Paulo ressalta que o relacionamento de Cristo com a maior das instituições é um verdadeiro mistério, pois a própria Igreja Católica Apostólica Romana é de origem divina.
Como sacerdote, tenho certeza de que a aprovação do novo projeto de emenda constitucional sobre o divórcio prejudicará ainda mais as famílias, aumentando as separações conjugais. A nova legislação referenda o amor livre que, na prática, já vigora há tempos.
Como esperar que de tal sociedade surjam vocações sacerdotais e religiosas? Como pretender o aparecimento de santos e heróis? A família monogâmica e indissolúvel, nascida no altar diante do sacerdote com todo requinte e pompa, se reduz a um contrato provisório. E já se propugna a absurda instituição de “família” formada por casais do mesmo sexo!
Através de uma mudança cultural profunda, vai-se assim fazendo o que a União Soviética tentou implantar pela força. Mãos hábeis, cabeças inteligentes e corações empedernidos souberam trabalhar a sociedade para descristianizá-la e levá-la ao torpor, tornando-a indiferente e atéia.
Não é de espantar que, sem nenhuma reação, o Estado vá ocupando cada vez mais o lugar dos pais e das famílias. Afinal, são eles próprios que correm pressurosos a entregar seus filhos nas creches públicas, onde estes são educados desde a mais tenra idade.
Em troca, os pais recebem uma pensão do Estado, a dita “bolsa escola”. A continuar assim, não tardará o dia em que as crianças passarão a dormir nas escolas como internos, e ao serem indagadas sobre quem são os seus pais, respondam: — “Meu pai é o Estado socialista, e minha mãe, a Pátria laica e atéia”.
Nessa perspectiva, o que fazer? “Ad te levavi, oculos meos, qui habitas in coelis”. (Sl 122, 1). Sim! Voltemos nossos olhos para Deus, para a Virgem de Fátima, pedindo perdão e misericórdia; pedindo, sobretudo, a grande vitória prevista por Ela em 1917: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
Pe. David Francisquini*
(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira— RJ
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