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18 de mar. de 2009

Como se vive a QUARESMA?

A Agência ECCLESIA apresenta esta semana um olhar sobre várias perspectivas ligadas à preparação da Páscoa: como se celebra em outras Igrejas, qual a sua origem histórica, o que significa para quem entra na Igreja Católica através do Batismo. Perspectivas que se cruzam e ajudam a dar sentido à vivência deste tempo litúrgico.

O ano litúrgico como hoje o conhecemos pretende levar os católicos a celebrar sacramentalmente a pessoa de Jesus Cristo como "memória", "presença", "profecia". Na Igreja primitiva, o mistério, a celebração, a pregação, a vida cristã tiveram um único centro: a Páscoa - o culto da Igreja primitiva nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa. No início da vida cristã encontra-se o Domingo como única festa, com a única denominação de "Dia do Senhor". Por influência das comunidades cristãs provenientes do judaísmo, surgiu depois um "grande Domingo", como celebração anual da Páscoa.



A celebração do baptismo na noite de Páscoa, já em uso no século III, e a disciplina penitencial com a reconciliação dos penitentes na manhã de Quinta-feira Santa, já no século V, fizeram nascer também o período preparatório da Páscoa, ou seja, a Quaresma, inspirada nos "quarenta dias bíblicos".



A Semana Santa apresenta-se, neste contexto, como a Semana Maior do ano litúrgico. Graças à peregrina Egéria, que viveu no final do século IV, conhecemos os rituais que envolviam estas celebrações no princípio do Cristianismo.
Ela descreve, no seu livro "Itinerarium", a liturgia que se desenvolveu em Jerusalém, teatro das últimas horas de vida de Jesus, e compreende o intervalo de tempo que vai do Domingo de Ramos à Páscoa.



Na Idade Média, esta semana era chamada a "semana dolorosa", porque a Paixão de Cristo era dramatizada pelo povo, pondo em destaque os aspectos do sofrimento e da compaixão. Actualmente, muitas igrejas locais dão ainda vida a essa tradição dramática, que se desenrola na Via-Sacra, procissões e representações da Paixão de Jesus.
Octávio Carmo



As outras Igrejas
Paixão, morte e Ressurreição de Cristo são as doutrinas comuns a todos os ramos do Cristianismo e que, ao mesmo tempo as distingue das outras religiões. A Quarta-feira de cinzas marca o início da Quaresma para todas as Igrejas cristãs, mas apenas a tradição católica a assinala obrigatoriamente com a simbologia da imposição das cinzas.



A Igreja Lusitana de comunhão Anglicana e também a Presbiteriana diferem pouco da tradição católica. Pequenos detalhes marcam a diferença. “A Igreja Lusitana é católica mas não é romana, ou seja, não reconhecemos a autoridade a Roma. A actividade litúrgica é, por isso, muito semelhante”, explica o Bispo Fernando Soares. O tempo de Quaresma principia na Quarta-feira de cinzas com o rito de imposição das cinzas. Não é uma prática de todas as igrejas, “dependerá da sensibilidade das comunidades”. Também a Igreja Evangélica Metodista Portuguesa não tem doutrinas nem normas específicas sobre este culto, mas em alguns países, “apenas em sentido tradicional e voluntário, há uma cerimónia nesta data, com ou sem imposição de cinzas”, explica o Pastor Jorge Barros.



Talvez a maior “detalhe” nas celebrações da Igreja Lusitana aconteça no Domingo de Ramos. Durante a Quaresma, são feitas, em folhas de palmeira, pequenas cruzes que no último Domingo da Quaresma, são abençoadas e distribuídas aos fiéis que, durante a leitura do Evangelho sobre a crucificação de Jesus, as seguram na mão. “É uma cruz pequena que se usa para marcar os livros. Algumas pessoas gostam inclusivamente de levar para alguns familiares”. Um pequeno símbolo que pretende “reforçar a relação de cada um com a cruz de Cristo”, explica o Bispo Fernando Soares.



A tradição Presbiteriana aponta como diferença a leitura do Evangelho no Domingo de Ramos. Enquanto a tradição católica revive toda a paixão de Cristo neste Domingo, a Igreja Presbiteriana apenas lê a entrada de Jesus em Jerusalém, deixando o restante relato para a Semana Santa. Os sete dias antes da Páscoa são um tempo especial de preparação para os fiéis presbiterianos e também para os metodistas. “A Semana Santa é a época do ano em que temos mais serviços religiosos, em especial nas igrejas paroquiais maiores, onde há serviços durante toda a semana, excepto no Sábado”, explica o pastor Jorge Barros.



Semana Santa
Todas as Igrejas têm um culto especial na Quinta-feira e na Sexta-feira Santa. Algumas comunidades Presbiterianas encontram-se todos os dias da Semana Santa. “A organização fica dependente de cada comunidade que poderá organizar actividades para os mais novos e mais velhos”, explica Eva Michel.



Durante a Quaresma a atenção principal centra-se nas passagens bíblicas e na reflexão pessoal de cada um, “para que possamos viver com maior atenção aos outros, a nós próprios, com a natureza e com Deus”. Este é o centro da prática quaresmal da Igreja Presbiteriana.



Tradicionalmente, nas Igrejas protestantes, a espiritualidade centrou-se na Sexta-feira Santa e na redenção. Eva Michel recorda a devoção que leva as pessoas ao culto na Sexta-feira santa, mesmo que estejam ausentes durante o resto do ano. No entanto, o diálogo ajudou a corrigir os extremos e, a pastora Eva explica que, hoje entende-se a necessidade de ampliar os horizontes. “A cruz sem ressurreição é muito vazia, mas a celebração da ressurreição sem olhar para o sofrimento na cruz também é insuficiente. Para ver a morte de Jesus temos de a perceber enquanto consequência da sua vida e não isolá-la. Isto significa redescobrir o profundo mistério que é a Páscoa”.



Na tradição baptista, durante a Semana Santa, há cultos vespertinos ou serviços religiosos à noite, em especial na Quinta-feira e Sexta-feira santa, onde são lembradas, através de textos e hinos, as últimas 48 horas de Jesus, a última ceia com os discípulos e a crucificação. “Existem muitos sermões sobre a descrição histórica do que aconteceu”. Os cânticos e os textos sagrados centram-se no sofrimento de Jesus. “Os evangélicos consideram que a salvação é de graça, mas não a foi para Jesus. Teve um alto preço e por isso os pastores recordam aos crentes que este foi um sofrimento atroz e dão ênfase ao preço do sofrimento para a salvação”, afirma Fernando Loja.



Tríduo Pascal
Das Igrejas cristãs, apenas a Católica realiza a Via-sacra na tarde de Sexta-feira santa, reconstruindo os último passos de Cristo. Na Sexta-feira Santa, a Igreja Lusitana prepara um momento devocional pelas 15 horas nas comunidades e também à noite, onde o culto se debruça sobre a crucificação. “A reflexão é conduzida pela pregação, pelos textos sagrados e por cânticos”. O culto de Quinta-feira santa termina com a desnudação do altar. “Todas as alfaias litúrgicas, a cruz, as flores, velas, a toalha são retirados com o objectivo de lembrar que Jesus foi sepultado e tudo ficou nu”. Na Sexta-feira o culto decorre na austeridade e apenas na Vigília Pascal de Sábado os elementos litúrgicos são repostos. Quando anunciada a ressurreição, acendem-se as luzes, “começando uma nova vida”. Um rito semelhante à tradição católica que habitualmente inicia a celebração com a bênção do fogo no exterior da igreja. No Domingo celebra-se o dia da Ressurreição. O convívio após o culto, num almoço familiar, é uma tradição que o Bispo da Igreja Lusitana lamenta estar-se a perder. “Até no Natal as pessoas já optam por ir ao restaurante ou a hotéis porque não querem cozinhar”.



A tradição Metodista celebra um culto na Sexta-feira santa “muito solene e por vezes emotivo e são realçados os acontecimentos centrados na crucificação e morte”, explica o Pastor Jorge Barros. Leituras bíblicas longas e apropriadas e hinos de sofrimento e tristeza, “embora de fé” conduzem os fiéis. Este é um dia em que a frequência na Igreja é “muito maior que o habitual, incluindo crentes pouco assíduos e visitantes”.



A tradição Presbiteriana não realiza a Vigília Pascal. Algumas comunidades organizam um culto durante a noite, que pode começar de madrugada e prolongar-se até ao nascer do Sol. “Quando o Sol se levanta, celebra-se a Ressurreição de Cristo”, afirma a pastora Eva Michel. A comunidade de Setúbal, por exemplo, desloca-se à Serra da Arrábida e têm o culto no exterior enquanto esperam pelo Sol. “Costuma seguir-se um pequeno-almoço comunitário”. Quem celebra o culto durante a noite já não participa no culto de Domingo.



Para os fiéis Baptistas a grande celebração é feita no Domingo de Páscoa. “Algumas comunidades fazem uma celebração fora de portas, pelas 7 horas da manhã, porque segundo os textos sagrados Jesus ressuscitou muito cedo, ainda o sol não tinha despontado”. Segue-se um pequeno-almoço comunitário e os fiéis juntam-se no habitual culto dominical. Fernando Loja explica que neste culto se “entoam cânticos específicos e é um Domingo de alegria”. Terminado o culto, as famílias reúnem-se num almoço festivo. Sem ser regra, algumas comunidades realizam almoços comunitários.



A Igreja Metodista celebra um culto no Domingo da Ressurreição “centrado na vitória da Vida e na alegria da Fé”. A Igreja é ornamentada com flores brancas e são entoados hinos de «Aleluia».
Apenas a tradição católica realiza o Compasso no Domingo da Ressurreição. As Igrejas cristãs Baptista, Lusitana, Presbiteriana e Metodista não usam o crucifixo mas a cruz que mantêm no local de culto. O pastor Jorge Barros explica que “a cruz vazia dá mais realce à vida, embora sem esquecer o sofrimento e morte de Cristo”. Fernando Loja explica que os Baptistas têm a cruz fixa na parede “e não anda de mão-em-mão. Não pode ser removida”.



Jejum e Renúncia
As práticas do jejum e a renúncia quaresmal são entendidos como opcionais e não impostos pelos líderes espirituais aos fiéis das Igrejas Baptista, Lusitana, Presbiteriana e Metodista.



As Igrejas protestantes assumem como sacramentos o Baptismo e a Eucaristia, pois são os que, segundo a Bíblia, foram instituídos por Cristo. “Apesar de falar também da reconciliação, não foi Jesus que disse para o fazer em sua memória. Não chamamos a reconciliação um sacramento” e por isso não é praticado no confessionário, explica Eva Michel, pastora da Igreja Presbiteriana.




Também a Igreja Baptista não reconhece a penitência como factor de purificação. “Entendemos que não precisamos de fazer penitência pelos pecados”, dá conta Fernando Loja da Igreja Baptista. “Jesus pagou o preço e o perdão é concedido gratuitamente a quem confessar directamente a Deus a sua falta”. A remissão deverá ser directa, quando estiver alguma pessoa em causa. “Não temos nenhuma privação na alimentação, nem especificamente em alguns dias”. Este cristão Baptista expressa que, para os evangélicos, “é difícil compreender o jejum. A privação e o sofrimento enquanto instrumento de purificação para nós não existem”.



Já na Igreja Lusitana de comunhão Anglicana a prática do jejum e da renúncia quaresmal são recomendadas. O Bispo Fernando Soares escreveu uma carta aos cristãos anglicanos a solicitar a renúncia quaresmal enfatizando duas vertentes - “o aprofundamento da espiritualidade interior e a relação com os outros, exprimindo a solidariedade com quem se encontra em dificuldades”. A liturgia anglicana exprime o apelo ao jejum, à renúncia, à oração e à leitura reflexiva da Palavra de Deus. Apelos dirigidos ao tempo de Quaresma como “preparação para a Semana Santa e Páscoa”.



Páscoa, centro da mensagem cristã
Sem um calendário litúrgico específico e com uma grande autonomia de comunidade para comunidade, a Igreja Baptista assume como central a celebração da Páscoa. Mais do que a celebração do Natal. “O Natal é necessário porque o filho de Deus precisava de se tornar homem, mas é instrumental. Se Deus não tivesse planeado a Páscoa, não haveria Natal”. A celebração do Natal é vista como “a promessa de Páscoa”, explica Fernando Loja.



O Bispo Fernando Soares da Igreja Lusitana lamenta que alguns aspectos da vivência tradicional da Páscoa se estejam a perder. “As alterações sociais e civilizacionais assim o dita, mas conduziram a um entendimento do lazer e do descanso diferente”. Chegados à Páscoa, “as pessoas optam por mini férias e diminuiu a presença nas celebrações pascais”. Entre os fiéis praticantes, o Bispo da Igreja Lusitana explica que a celebração do Domingo de Páscoa “é muito participada”.



A vivência da Páscoa acentua a espiritualidade pessoal e em comunhão na Igreja Presbiteriana. “A Quaresma conduz-nos durante os 40 dias, mas o tempo forte é a Semana Santa”, explica a pastora Eva Michel, que afirma não notar menos participação na altura da Páscoa. “Continua a ser um momento alto na nossa Igreja”.



Para a Igreja Metodista, a Quaresma é uma época não apenas de caminho, mas de preparação para a Páscoa Cristã, apontando para a centralidade dos acontecimentos centrais da Fé (Paixão, morte e Ressurreição de Cristo). A pastora presbiteriana Eva Michel explica que na Bíblia há muitas formas de falar da cruz e da Ressurreição e “todas as tradições se podem enriquecer mutuamente”.
Lígia Silveira



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Dossier Agência Ecclesia 17/03/2009 11:38 13280 Caracteres
382 Quaresma

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